4ª GERAÇÃO DA EMPRESA ELOGIADA POR SÓNIA BORGES DE SOUSA
São sete décadas de trabalho árduo. Uma vida inteira dedicada a uma marca. 70 anos depois, a empresa continua a ser gerida pela mesma família, um júbilo que Sónia Borges de Sousa faz questão de deixar em época de aniversário.
São 70 anos de história da A.C. Cymbron. Muitos anos, com muitas histórias. Vamos recordar como tudo se formou.
Sónia Borges de Sousa – A A.C. Cymbron enquanto empresa registada faz 70 anos agora, embora tenha sido iniciada um pouco antes, na altura por quatro sócios: o Senhor Vicente Cymbron Borges de Sousa, o Dr. José Cymbron Borges de Sousa, a Dª Mariana Cymbron Borges de Sousa e o Senhor Alfredo Pimentel
Começou por ser uma empresa ligada à construção civíl, com uma quota muito interessante do mercado, mas depois um dos irmãos dos sócios, que também estava ligado à empresa, o Dr. Pedro Borges de Sousa, que tinha alguns contactos, foi nomeado agente da Cidla, primeiro, depois da Sacor. Ambas foram fundidas após o 25 de Abril numa só, dando origem à Petrogal, e a A.C. Cymbron durante muitos anos foi agente da Petrogal para os Açores.
Por opção das petrolíferas, alguns anos mais tarde, decidiu-se terminar com os agentes locais, e a empresa começou a diversificar o seu negócio, abrindo as suas próprias bombas, o que hoje lhe dá alguma dimensão.
70 anos com muitos altos e baixos, por certo. O que foi ou tem sido mais difícil?
Muitos altos e muitos baixos, com algumas crises, a pior de todas elas talvez tenha sido em 1975/1976. Eu costumo dizer que nós nascemos e vivemos com a empresa, porque as coisas quando não correm bem os pais chegam a casa e nós sentimos o reflexo disso.
Recordo-me de que na altura todos os meses havia condicionalismos. Portugal não tinha divisivas para comprar matéria-prima, portanto não conseguia importar brent, e todos os meses a quota era menor, ou seja, tínhamos que diminuir vendas, numa altura de grande inflação em que os sindicatos pediam maiores ordenados. Julgo que terá sido o periodo mais conturbado da empresa.
Foram diversificando as áreas de atuação de negócio da empresa de forma sustentada, mas mantendo sempre uma ligação aos combustíveis:
Sempre com alguma ligação. Como tinhamos o gás começamos a oferecer uma gama de eletrodomésticos.
Houve uma altura em que também disponibilizávamos cozinhas. Posteriormente, numa reunião em que o meu pai conheceu algumas pessoas ligadas à Black & Decker, ferramentas profissionais, passamos a representar a marca e à conta desta marca seguiram-se outras. Também tínhamos o negócio das motos que acabamos por abandonar, uma atividade que há seis anos atrás, mais ou menos, retomámos.
Considerando ainda que tínhamos ligada à empresa a agência de viagens Melo, arrancamos com o serviço de uma rent-a-car há três anos, um investimento que está neste momento pago e que esperamos que continue a crescer.
O que reserva o futuro, em termos de novas apostas?
Os combustíveis estão cada vez mais num fim da linha. Não digo que terminem nos próximos 5 ou 10 anos, mas se calhar daqui a 20 ou 25 as energias alternativas terão um crescimento significativo e o contrário acontecerá aos combustíveis. Temos de apostar em novas áreas de negócio. Quando nós muitas vezes falamos que o Governo Regional dos Açores continua a manter as margens fixas, é no sentido de que para fazermos a transformação da empresa e abandonarmos um pouco o negócio que temos neste momento, precisamos de alguma receita que nos permita fazer isso mesmo, o que não acontece neste momento. A empresa não tem prejuízos mas também não tem lucro, isto é algo que tem sido contínuo ao longo destes 70 anos, ou seja, tem as suas obrigações pagas assim como os seus ordenados.
Há uma transformação já no mercado dos combustíveis, e tudo indica que nos próximos tempos e com a introdução de veículos elétricos o mercado dos combustíveis vai ainda ser diferente.
O gás tem estado em quebra desde há uns cinco ou seis anos; o combustível, curiosamente a gasolina cresceu este ano, por via do Turismo e do crescimento do parque automóvel por parte das rent-a-car, pese embora as seja um aumento residual, tem vindo a baixar.
– Neste momento já aparecem nos Açores alguns postos
de abastecimento em que não há operadores, ou seja pessoa chega, abastece, paga com um cartão e vai-se embora.
Será um modelo que será para crescer? É provável que venha a acontecer, gradualmente.
Falou em Turismo, que é um setor no qual também estão a trabalhar. Como empresária, tem acompanhado a evolução. Está satisfeita com o crescimento?
Sempre se pensou que o Turismo seria uma aposta. Nós muitas vezes referimos que deveria ser um turismo de qualidade e sustentável. Vejo, infelizmente, que em alguns casos a qualidade e o impacto ambiental não foram assegurados. Primeiro surgiu o mau, e agora é que estamos a tentar corrigir, mas o Turismo é um pouco como uma pescadinha de rabo na boca: se fizermos primeiro e não tivermos Turismo, é porque quisemos dar passos maiores do que as pernas; se só fizermos depois somos criticados porque fizemos tarde. No caso do Turismo é preciso ter cuidado, e falo por exemplo nas criticas que fazemos à SATA, que não atravessa o melhor momento. Ajudar a afundar a SATA pode ser muito perigoso. Para todos os efeitos a SATA é a nossa bandeira. Ao ficarmos dependentes de uma Ryanair ou da TAP para se voar para os Açores, certamente ficaremos pior servidos. Acho que é preciso cuidado e acarinharmos o que é nosso!
Na nossa história já há um número considerável de empresas que eram de bandeira açoriana que ou despareceram ou cairam nas mãos de investidores que não tem qualquer relação com os Acores.
Eu penso que há nas empresas açorianas de cariz familiar um princípio em que é vulgar dizer-se: “A primeira geração constrói; a segunda geração mantém; a terceira geração vende.
O tecido empresarial açoriano é composto por empresas de pequena e média dimensão, que quando foram chegando à terceira geração foram desagregando Costumo dizer que o meu maior orgulho é poder dizer que vamos na quarta geração!
É necessário adaptar as empresas aos tempos que correm e saber passar à geração abaixo a empresa. Posso dizer que o negócio da rent-a-car foi desenhado e desenvolvido pela nossa quarta geração e temos de ter a capacidade de nos moldarmos ao que as novas gerações querem apostar, naturalmente com o bom senso de todos para aquilo que é possível fazer, libertar meios para que os sonhos deles se realizem e ao mesmo tempo que a empresa mantenha solidez.
Vamos olhar um pouco para o universo da empresa, que tem uma carga humana grande. O que gostaria de lhes dizer nestes 70 anos?
Neste momento são 107 os colaboradores, embora por média tenhamos 7 a 8 trabalhadores de baixa por diversos motivos. A eles e a todos os nossos clientes, parceiros e colaboradores o nosso Obrigado por fazerem parte dos nossos 70 anos.